Quando eu era jovem, na feira, jornal velho embalava legumes e verduras. Jornalismo nunca foi feito para ser chapa branca (corporativista, para quem desconhece o termo), no entanto, tem mais jornalismo chapa branca hoje do que radiografia de pulmão chinês com coronavírus. Não dá.
Eu fico aqui pensando, onde a minha geração errou — porque só um erro justificaria — a falta de senso crítico dos meus pares e (ímpares por que não?). O mundo mudou muito, mas ainda é uma bosta para a maioria das pessoas, na maioria dos lugares. Se não é para você, palmas, privilégio. Aceita e cala sua boca.
É difícil conviver com tanta coisa, eu sei. Eu tenho tentado me manter afastado (como diria o saudoso Chorão), mas você me conhece. Ou melhor, não me conhece. Será mesmo que eu também preciso dizer algo? Mas não é esse algo pasteurizado, com corantes artificiais de nada. Conjurado como um coelho do boné do MST, germinado da semente do narcisismo, sem coesão, sem argumento — a não ser egoísmo, umbiguismo & machismos afins.
Não estou aqui para justificar nada também. Tudo me revolta. Eu quero ser a gasolina para esse circo pegar fogo. Quero fazer você reler frases até que elas façam algum sentido para você. Mesmo que o sentido seja me mandar às favas.
Um jornalismo que usa palavras velhas (e quão velhas são as palavras? Já pensou nisso?), mas embrulhadas em planta fresca, ou em algo que veio do solo agora. Ainda sujo, ocasionalmente perigoso, moeda de troca do capitalismo explorador, mas, ainda assim, vivo.
Vivo por alguns momentos, vivo até secar ou continuar a vida — dentro de você. Um jornalismo mais almeirão do que existe por aí. Quem nunca deu comida para periquito não sabe dobrar o talinho da couve. Tá na hora desse talinho esbarrar na trava na gaiola.
Eu acredito que o conhecimento liberta, que a verdade pode sublimar o espírito até o ponto ebulição mental. E, não me entenda mal, eu não tenho verdade nenhuma. Mas eu quero criar a minha, expondo meu ponto de vista contra o seu, como aquela chapa do pulmão chinês contra a luz. Jornalismo deve servir para a gente olhar o raio-x e, ainda que meio morto, saber da verdade possível, os detalhes da vida em contraste.
Esse sabor em contraste (e como são ruins os contrastes dos exames), o amargor de existir e pensar nesse mundo caótico e cruel. Saudosismo dos tempos da feira? Tenho certeza que nem o feirante que levanta as 3h da matina para trabalhar tem, mas uma referência a um modo de ver as coisas mais simples, mais direto e sem nuances que fujam à obviedade exposta: como fazer desse um porra de lugar um pouco melhor. Pior já não é possível, acredite. Se não é tão ruim para você, palmas… Já entendeu o raciocínio.
Coma mais vegetais! Toda segunda um novo texto. Obrigado por ler e até lá.